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Brasil / África

Arte para empoderar
por Maria Helena Barros

 

“(…) Há alguns dias conheci seu trabalho e estou simplesmente encantada. É maravilhoso ter alguém como você. Tenho divulgado seu trabalho como posso, porque sei que assim como tem me ajudado, pode ajudar outras pessoas. Graças a você eu consigo olhar pro meu corpo e dizer, “eu ainda sou linda”. Mesmo que o resto da mídia diga que é feio. Eu sou linda porque tudo no meu corpo está onde deveria estar. Cada parte do meu corpo é perfeita, de uma forma única.” (Trecho do livro Beleza Real).

 

 

É por meio de ilustrações como esta que Evelyn Queiróz, a Negahamburguer, vem representando, inspirando e dando voz para muitas mulheres. Através de seu trabalho, a  artista denuncia as mais diversas situações de violência de gênero, opressão e preconceito ainda presentes numa sociedade permeada por padrões estéticos que a todo o momento tentam reprimir a mulher de ser realmente quem ela é.

 

 

Evelyn tem 27 anos e é natural de São Paulo, mas atualmente mora no município de Santo André, vizinho da capital paulista. Apaixonada por desenho desde os tempos de criança, ela desenvolve trabalhos com lambe, grafite e ilustrações. O nome de sua personagem, Negahamburguer, é inspirado em uma boneca que teve durante a infância.

 

Em 2014, a artista lançou o projeto Beleza Real, que tem por objetivo retratar situações de mulheres reais e seus desejos de serem elas mesmas e com todo o respeito que merecem. Um dos frutos do projeto é um livro homônimo que reúne 53 relatos ilustrados.

 

 

 

“Nem moreninha, nem marrom bombom. Eu sou NEGRA! Parem de querer embranquecer a minha cor.

“Vai ter mulher preta informada sim!

Vai ter mulher preta na faculdade sim!

Vai ter mulher preta sendo chefe e bem sucedida sim!”

 

 

No mesmo ano, Evelyn lançou a mostra A Culpa não foi Sua, onde se concentra em situações de estupro e abuso sexual, estas divididas em três fases: infância, dor e superação. As ilustrações da exposição são baseadas em histórias reais e Evelyn aproveita para colocar suas impressões e sensações sobre o assunto que vem sendo intensamente discutido junto com defensoras dos direitos das mulheres em uma sociedade impregnada pelo machismo.

 

Muitas são as meninas e mulheres que procuram o perfil no Facebook de Negahamburuger em busca de um espaço para contar suas histórias e dizer o quanto se sentem representadas pelas ilustrações. Exemplo disso são os expressivos números alcançados. A página conta atualmente com 100 mil curtidas. A seguir os melhores momentos da entrevista concedida pela jovem ao Afreaka.

 

 

 

“Para todas as mulheres que passam/passaram por dupla ou até tripla jornada em busca de um sonho. Mulheres com conhecimento incomodam o patriarcado, e é por isso que vocês são tão importantes!”

 

 

Quando você começou a utilizar a arte para denunciar situações de opressão contra as mulheres? De onde surgiu essa ideia?

 

Na verdade aconteceu de um jeito muito natural. Vi que minhas opiniões, medos também eram de outras meninas e fui colocando cada vez mais essa temática. Eu queria que meu trabalho fosse algo além da técnica.

 

 

Qual a inspiração para seus desenhos?

As histórias que chegam até mim de mulheres de todos os lugares com certeza são minhas maiores inspirações.

 

 

Quais são as suas referências?

Admiro a arte urbana em geral e muitas pessoas reais e suas histórias são minhas referências. Meninas me escrevem, mandam fotos e eu fico super feliz em conhecê-las e continuar passando representatividade.

 

 

 

“Desde os meus 13 anos curto hardcore e já fui em muitos rolês. Reparei que a mulher negra que frequenta esse rolê quase nunca é representada, então aí está! Vai ter mulher preta, tatuada e gorda dando mosh no hardcore sim!”

 

 

Em 2014, você lançou o projeto Beleza Real do qual saiu um livro financiado coletivamente pela plataforma Catarse. Como foi o processo de escolha das histórias que compõe o projeto?

Pensei em colocar histórias de vários níveis, alguns traumas superados e outros em processo. Nós sabemos como é ser mulher e por mais que não seja a nossa realidade ali, a gente sente empatia e quer abraçar cada dona desses depoimentos.

 

 

Como você avalia a situação da mulher no contexto social atual, especialmente a mulher negra?

A mulher negra luta duplamente, pois além do machismo há também o racismo que se abraçam e colocam essa mulher cara a cara com resultado de tanto ódio e falta de conhecimento.

 

 

Qual mensagem você gostaria de deixar para cada mulher que vê o seu trabalho?

Quero agradecer por todo carinho que recebo e que me faz continuar <3

 

 

Para conhecer mais o trabalho de Negahamburguer:

Site: http://www.negahamburguer.com/

Facebook: https://www.facebook.com/olanegahamburguer

Instagram: https://instagram.com/negahamburguer